sexta-feira, 3 de abril de 2020

Uma epidemia pode ser maior que a Igreja Católica?

São João Bosco e a Peste da Cólera

"Não podemos dar sacramentos! Não somos fideístas! Não podemos arriscar-nos! Temos medo da epidemia! Também somos gente! Podemos ser presos! A "Igreja" diz. O Governo diz!".
Na História da Igreja vemos exemplos sublimes de sacerdotes que deram suas vidas por defender a Fé. Vemos os apóstolos que foram presos e martirizados por levar a Fé em Nosso Senhor Jesus Cristo às nações. Vemos outros mártires nos anos mais modernos que foram torturados antes de suas mortes por não renegarem a Cristo. Vemos um São João Bosco com seus "filhos" do oratório que saíram às ruas para cuidar dos que estavam sendo atacados pela a epidemia de cólera, etc.
"Sim, verdade!" -alguns podem dizer- "Mas eles são santos e inspirados por Deus! Não podemos seguir seus exemplos porque será fideísmo e isso é condenado pela a Igreja. Não podemos seguir seus exemplos porque eles eram diretamente inspirados por Deus. Não podemos seguir seus exemplos, porque... porque...". Bom, vemos que há muitos "porquês".
Deus criou a Igreja Católica como "Sociedade Perfeita". O que seria uma "Sociedade Perfeita"? Podemos dizer que uma Sociedade Perfeita é aquela que "basta a si mesma para poder existir, sem depender de nenhuma outra". Por que Deus fez a Igreja como uma Sociedade Perfeita? Como já nos mostrou a história, a Igreja teve muitas vezes que desobdecer regras em nome de um bem maior. De um bem que se chama: "salvação das almas" (Salus animarum). Por esse motivo principal a Igreja Católica tem o direito divino de ser uma Sociedade Perfeita, para que nada a possa impedir de realizar sua missão nesse mundo.
A Salvação das Almas é a lei suprema da Igreja (Lex Suprema Ecclesiae salus animarum est). Essa lei tem uma natureza distinta de outras leis. As leis normalmente servem para regir os homens, uma Sociedade, uma nação, etc. Algumas leis têm origem divina (como as leis do decálogo ou as leis naturais) e outras têm sua origem nos homens, ou seja, de Sociedades e Nações. A lei da Salvação das almas tem origem divina, pois Deus (Criador do céu e da Terra, que existe por Sí mesmo e não depende de nossa crença para Sua Existência) deseja que todo homem vá ao céu, mesmo se alguns escolherem não ir, a vontade de Deus é de fazê-los ir. Por isso essa lei é a mais importante para a Igreja. Ninguém tem o direito, portanto, de proibir as atitudes que possam vir a ser tomadas para que essa lei venha a ser cumprida, nem mesmo os homens da Igreja ou a mais alta autoridade secular que possa existir. Ninguém. E essa lei não muda com o tempo, pois é uma lei criada por Deus que é eterno.
Deus instituiu a Igreja para salvar as almas através de seus meios. Esses meios são Sua doutrina e os Sacramentos instituídos pelo o próprio Cristo, que nos dão e nos restituem a Vida da Graça. Esses meios tampouco dependem da existência de alguma lei civil para existirem. Eles existem porque Deus mesmo o quis assim. Por isso mesmo a Igreja é uma Sociedade Perfeita, para poder obedecer independentemente de qualquer fato externo a Lei da Salvação das Almas, para que essas almas possam conhecer, amar e servir a Deus nesse mundo para portanto ir ao Céu viver eternamente com Deus.
E a quem a Igreja deu essa missão de levar os meios de salvação à todas as pessoas para poder ir ao Céu? A Igreja deu essa Missão a seus Ministros Ordenados. Eles são os responsáveis da missão dada por Deus mesmo à Igreja para levar as almas até Deus Nosso Senhor. Eles são homens que são usados como meios por Deus para trazer-nos pela a primeira vez a Vida de Cristo em nossas almas, através do Batismo. Eles são os responsáveis para perdoar aqueles pecados que cometemos após o Batismo, através do Sacramento da Confissão. Eles são os homens que nos fazem ter o grande júbilo de receber o Corpo mesmo de Cristo em nossas Comunhões. Eles nos confirmam na Fé. Ordenam a outros homens que escutam esse chamado de servir como eles à Igreja de Cristo. Eles são aqueles que formalizam a vida de uma família através do Sacramento do Matrimônio. E por fim, são os mesmos que nos dão o conforto final na hora de nossa morte. Portanto, esses homens são essenciais para que possamos chegar ao céu.
Os santos sabiam disso quando eles agiram e foram mortos em diversas circunstâncias. Mas... foi a ocasião que fez o santo ou o santo já era santo na ocasião? Não podemos saber com certeza de qual forma um santo era inspirado para agir em uma crise: como no mártirio ou em uma epidemia. O que sabemos é que independente da forma, Deus agiu nos homens da Igreja para que fizessem a ação correta nas dinstintas cisrcunstâncias, como por exemplo, a ação de São João Bosco durante a cólera na Itália ou quando Marcos Ji Tiankiang foi martirizado sem negar a Deus. Detalhe, o último viveu sua vida viciado em ópio. Mas Deus mesmo assim lhe presenteou com o martírio.
O clero que diz: "não podemos ajudar nossos fiéis a salvar suas almas através dos sacramentos", está correto? Será que não deveria dar os sacramentos (meios de salvação) na hora em que as almas mais necessitam? Será mesmo que tomar alguma atitude, tendo em vista todos os princípios que foi dado é questão de "fideísmo" como quer fazer crer um certo sacerdote conhecido? Será mesmo que todos esses "porquês" não são vindos da pouca fé na ação direta de Deus no mundo? Acaso Deus não age no mundo? Acaso devemos desobedecer as leis da Igreja e portanto de Deus, para obedecer as leis dos homens? Será que estaríamos preparados para receber a Graça de Deus em um martírio? Será que não deveríamos pelo menos tentar trocar os "porquês" pelos "Serás"? Já que uma certeza os senhores sacerdotes do Senhor não têm? Será?
Ah! O mesmo se aplica aos fiéis. Muitos desanimam seus sacerdotes dizendo para eles: "não faça nada, espere". Uma única coisa podemos dizer disso: não se faz mais católicos como antigamente. Que Deus Nosso Senhor e a Santíssima Virgem Maria nos ajude nesses tempos e em outros que virão a não renegá-los através de nossas ações e palavras.

Abbé Charbel Sant'Ana